Tema nº. 20 – A Tagarelice Interior e Canção Psicológica.
Segue abaixo um pequeno trecho do livro “Tratado de Psicologia Revolucionária” do V.M. Samael Aun Weor, aliás leitura indispensável para quem quer iniciar um trabalho sério sobre si mesmo. Porém, não basta ler o livro e entendê-lo somente com a mente. Para uma integral compreensão desta maravilhosa obra do Esoterismo Prático é necessário que o neófito o COMPREENDA com as faculdades interiores, quero me referir àquelas da alma e do espírito. Ou seja, o aprendiz deve comprava-lo em si mesmo, através da prática direta, da reflexão profunda e da meditação serena:
“Resulta urgente, inadiável, impostergável observar a tagarelice interior e o lugar preciso de onde provém.
Inquestionavelmente, a tagarelice interior equivocada é a “causa causorum” de muitos estados psíquicos inarmônicos e desagradáveis no presente e também no futuro.
Obviamente, esse vão palavrório insubstancial de charla ambígua e, em geral, toda conversa prejudicial, daninha, absurda, manifestada no mundo exterior tem sua origem na conversação interior equivocada.
Sabe-se que existe, na Gnose, a prática esotérica do silêncio interior; isto o conhecem nossos discípulos de terceira câmara.
Não é demais dizer, com inteira claridade, que o silêncio interior deve referir-se especificamente a algo muito preciso e definido.
Quando o processo do pensar se esgota intencionalmente, durante a meditação interior profunda, consegue-se o silêncio interior; mas não é isto o que queremos explicar no presente capítulo.
Esvaziar a mente, ou pô-la em branco, para conseguir realmente o silêncio interior, tampouco é o que intentamos explicar agora nestes parágrafos.
Praticar o silêncio interior a que nos estamos referindo tampouco significa impedir que algo penetre na mente.
Realmente estamos falando agora de um tipo de silêncio interior muito diferente. Não se trata de algo vago e geral…
Queremos praticar o silêncio interior em relação com algo que já esteja na mente; pessoa, acontecimento, assunto próprio ou alheio, o que nos contaram, o que fez fulano, etc., porém, sem tocá-lo com a língua interior, sem discurso íntimo.
Aprender a calar não somente com a língua exterior, mas também, além disso, com a língua secreta, interna, resulta extraordinário, maravilhoso.
Muitos calam exteriormente, mas com sua língua interior esfolam vivo ao próximo. A tagarelice interior, venenosa e malévola, produz confusão interior.
Se observamos a tagarelice interior equivocada, veremos que está feita de meias verdades, ou de verdades que se relacionam entre si de um modo mais ou menos incorreto, ou algo que se agregou ou se omitiu.
Desgraçadamente, nossa vida emocional se fundamenta, exclusivamente, na auto-simpatia.
Para o cúmulo de tanta infâmia, só simpatizamos conosco mesmos, com nosso tão querido ego; e sentimos antipatia e até ódio daqueles que não simpatizam conosco.
Nós nos queremos demasiado a nós mesmos; somos narcisistas em cem por cento. Isto é irrefutável, irrebatível.
Enquanto continuemos engarrafados na auto-simpatia, qualquer desenvolvimento do Ser se faz algo mais que impossível.
Necessitamos aprender a ver o ponto de vista alheio. É urgente saber pôr-nos na posição dos outros.
“Assim é que, todas as coisas que queirais que os homens façam convosco, assim, também, fazei-o vós com eles” (Matheus VII, 12).
O que verdadeiramente conta nestes estudos é a maneira como os homens se comportam interna e invisivelmente uns com os outros.
Desafortunadamente e ainda que sejamos muito corteses e até sinceros, às vezes, não há dúvida de que, invisível e internamente, nos tratamos muito mal uns aos outros.
Pessoas, aparentemente muito bondosas, arrastam diariamente seus semelhantes até a cova secreta de si mesmos para fazer, com estes todos os seus caprichos (vexames, burla, escárnio, etc.).”
“Chegou o momento de refletir muito seriamente sobre isso que se chama consideração interna.
Não cabe a menor dúvida sobre o aspecto desastroso da autoconsideração íntima, esta, além de hipnotizar a Consciência, nos faz perder muitíssima energia.
Se a pessoa não cometesse o erro de identificar-se tanto consigo mesma, a autoconsideração interior seria algo mais que impossível.
Quando alguém se identifica consigo mesmo, quer-se demasiado, sente piedade por si mesmo, autoconsidera-se; pensa que sempre se portou muito bem com fulano, com sicrano, com a mulher, com os filhos, etc. e que ninguém o soube apreciar, etc. Conclusão: É um santo e todos os demais, uns malvados, uns velhacos.
Uma das formas mais comuns de autoconsideração íntima é a preocupação pelo que outros possam pensar sobre nós mesmos; talvez suponham que não somos honrados, sinceros, verídicos, valentes, etc.
O mais curioso de tudo isso é que ignoramos, lamentavelmente, a enorme perda de energia que esse tipo de preocupação nos traz.
Muitas atitudes hostis para com certas pessoas que nenhum mal nos fizeram são devidas, precisamente, a tais preocupações nascidas da autoconsideração íntima.
Nestas circunstâncias, querendo-se tanto a si mesmo, autoconsiderando-se deste modo, é claro que o eu, ou, melhor dizendo, os eus, em vez de se extinguirem, fortificam-se, então, espantosamente.
Identificado consigo mesmo, apieda-se muito de sua própria situação e até se põe a fazer contas.
Assim é como pensa que fulano, que sicrano, que o compadre, que a comadre, que o vizinho, que o patrão, que o amigo, etc., etc., etc., não lhe pagaram como deviam, apesar de suas conhecidas bondades e, engarrafado nisso, torna-se insuportável e aborrecedor para todo mundo.
Com um sujeito assim, praticamente não se pode falar, porque qualquer conversação, seguramente vai parar em seu livrinho de contas e em seus tão cacarejados sofrimentos.
Escrito está que, no trabalho esotérico gnóstico, só é possível o crescimento anímico mediante o perdão aos outros.
Se alguém vive de instante em instante, de momento em momento, sofrendo pelo que lhe devem, pelo que lhe fizeram, pelas amarguras que lhe causaram, sempre com sua mesma canção, nada poderá crescer em seu interior.
A oração do Senhor disse: “Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos a nossos devedores.”
O sentimento de que nos devem, a dor pelos males que outros nos causaram, etc., detém todo progresso interior da alma.
Jesus, o Grande Kabir, disse: “Põe-te de acordo com teu adversário sem demora, enquanto estás com ele no caminho, para que não suceda que o adversário te entregue ao juiz e o juiz, ao ministro e sejas posto no cárcere. Por certo te digo que não sairás dali, até que pagues até o último ceitil” (Matheus V, 25,26).
Se nos devem, devemos. Se exigimos que nos paguem até o último denário, devemos pagar, antes, até o último ceitil.
Esta é a lei do Talião: “Olho por olho e dente por dente.” Círculo vicioso, absurdo.
As desculpas, a plena satisfação e as humilhações que de outros exigimos pelos males que nos causaram também de nós nos são exigidas, ainda que nos consideremos mansas ovelhas.
Colocar-se sob leis desnecessárias é absurdo; melhor é colocar-se a si mesmo sob novas influências.
A lei da misericórdia é um influência mais elevada que a lei do homem violento: “Olho por olho, dente por dente.”
É urgente, indispensável, inadiável, colocar-nos inteligentemente sob as influências maravilhosas do trabalho esotérico gnóstico; esquecer que nos devem e eliminar, em nossa psique, qualquer forma de autoconsideração.
Jamais devemos admitir, dentro de nós, sentimentos de vingança, ressentimento, emoções negativas, ansiedades pelos males que nos causaram, violência, inveja, incessante recordação de dívidas, etc., etc., etc.
A Gnose é destinada àqueles aspirantes sinceros que verdadeiramente queiram trabalhar e mudar.
Se observamos as pessoas, podemos evidenciar, de forma direta, que cada pessoa tem sua própria canção.
Cada qual canta sua própria canção psicológica; quero referir-me, de forma enfática, a essa questão das contas psicológicas: sentir que nos devem; queixar-se, autoconsiderar-se, etc.
Às vezes, a pessoa conta sua canção, assim porque sim, sem que se lhe dê corda, sem que se a estimule e, em outras ocasiões, depois de umas quantas taças de vinho…
Nós dizemos que nossa aborrecedora canção deve ser eliminada; esta nos incapacita interiormente; rouba-nos muita energia.
Em questões de Psicologia Revolucionária, alguém que canta muito bem – não nos referimos à formosa voz, nem ao canto físico – certamente não pode ir mais além de si mesmo; fica no passado…
Uma pessoa, impedida por tristes canções, não pode mudar seu nível de Ser; não pode ir mais além do que é.
Para passar a um nível superior do Ser, é preciso deixar de ser o que se é. Necessitamos não ser o que somos.
Se continuamos sendo o que somos, nunca poderemos passar a um nível superior de Ser.
No terreno da vida prática, sucedem coisas insólitas. Amiúde, uma pessoa qualquer trava amizade com outra, só porque é fácil cantar-lhe sua canção.
Desafortunadamente, tal classe de relações termina quando ao cantor se pede que se cale, que mude o disco, que fale de outra coisa, etc.
Então, o cantor ressentido se vai em busca de um novo amigo; de alguém que esteja disposto a escutá-lo por tempo indefinido.
Compreensão exige o cantor. Alguém que o compreenda, como se fosse fácil compreender outra pessoa.
Para compreender a outra pessoa é preciso compreender-se a si mesmo. Desafortunadamente, o ‘bom cantor’ crê que compreende a si mesmo.
São muitos os cantores decepcionados que cantam a canção de não serem compreendidos e sonham com um mundo maravilhoso onde eles são as figuras centrais.
Contudo, nem todos os cantores são públicos; também existem os reservados; não cantam sua canção diretamente, mas secretamente a cantam.
São pessoas que trabalham muito, que sofreram demasiado, sentem-se defraudadas, pensam que a vida lhes deve tudo aquilo que nunca foram capazes de conseguir.
Sentem comumente uma tristeza interior, uma sensação de monotonia e espantoso aborrecimento; cansaço íntimo ou frustração em cujo redor se amontoam os pensamentos.
Inquestionavelmente, as canções secretas nos fecham a passagem no caminho da auto-realização íntima do Ser.
Desgraçadamente, tais canções interiores secretas passam despercebidas para nós mesmos, a menos que intencionalmente as observemos.
Obviamente, toda observação de si deixa penetrar a luz em nós mesmos, em nossas profundidades íntimas.
Nenhuma mudança interior poderia ocorrer em nossa psique, a menos que seja levada à luz da observação de si.
É indispensável observar-se a si mesmo estando só, do mesmo modo que ao estar em relação com as pessoas.
Quando alguém está só, eus muito diferentes, pensamentos muito distintos, emoções negativas, etc., se apresentam.
NEM SEMPRE SE ESTÁ BEM ACOMPANHADO QUANDO SE ESTÁ SÓ. É apenas normal, é muito natural estar muito mal acompanhado em plena solidão. Os eus mais negativos e perigosos se apresentam quando se está só.
Se queremos transformar-nos radicalmente, NECESSITAMOS SACRIFICAR NOSSOS PRÓPRIAS SOFRIMENTOS.
Muitas vezes expressamos nossos sentimentos em canções articuladas ou inarticuladas.”
RECAPTULANDO:
– A tagarelice interior é filha do ego;
– Remédios: – auto-observação;
– morte em marcha;
– silêncio interior;
– saber ver o ponto de vista alheio;
– se colocar no lugar do outro;
– aprender a perdoar (o verdadeiro perdão vem do coração);
– devemos aprender a diferenciar a fantasia dos projetos, e que devemos projetar as coisas conscientemente em lugar e hora apropriadas;
– muitas vezes a tagarelice interior vem do fato de nos acharmos mais sábios dentro do conhecimento interior do que os outros;
– a sabichonice é outro defeito psicológico caracterizado por se sentir que sabe tudo; então a pessoa nunca deixa de responder à uma questão, mesmo que erroneamente;
– canção psicológica é uma ladainha constante gerada por um conjunto de defeitos que impede a evolução espiritual (estanca as pessoas no caminho interior);
– somente com os três fatores de revolução da consciência (MORRER, NASCER E SACRIFÍCIO PELA HUMANIDADE) é que poderemos nos auto-conhecermos a fundo, tendo os meios para erradicar da alma estes defeitos;
– nesta conferência é interessante nos lembrarmos da simbologia dos dois ladrões que foram crucificados junto com o Cristo: – o mau ladrão é o ego que rouba a energia sexual para dar vazão à todo tipo de teorias, projetos egoicos, desejos, etc. – o bom ladrão é o Espírito Santo, aquele que rouba a energia sexual para regenerar-se e para criar seus corpos solares.